9 de jun. de 2007

LÁ PARA O FIM DOS DIAS


Lá para o fim dos meus dias resignados
irei por fim entregar o meu corpo inútil
à justiça dos deuses desta vida.
Tendo usufruído do corpo e do tempo
com seu consentimento divino
terei de lhes dar explicações
pelo período de tempo em que o usei.
Foi gasto o tempo e o corpo
na procura de uma felicidade
tantas vezes avistada
outras tantas extraviada no evaporar de uma miragem
que jurava ser real, apesar de as imagens serem difusas.
Apesar de meus argumentos serem ardilosos
não saberei como me defender dos dias incendiados
na vertigem da busca pelo sentido da vida
sempre na sombra dos cadáveres risíveis.
Terei por certo dificuldade em explicar
a ausência da lua no teu ventre
ou a serpente no teu leito de morte
as noites cheias de corpos ausentes
ou o fogo que consumiu a essência do meu desejo.
Entrego este corpo consumido pelo tempo
e o tempo gasto por este corpo
aos deuses na esperança de um milagre.
Lá para o fim dos dias aguardo
que por fim a noite se encha de uivos
e os animais fabulados nos dias de criança
abandonem os livros de contos
e voltem então para a floresta
dos animais sem fala.
Para ti, princesa inventada, na pressa dos coitos
virgem falsa, consumada no sacrifício aos deuses
fica este tempo inútil e este corpo gasto
nas fábulas dos animais que falam.

Atit Ordep (Ferino num Desatino)

Foto SCX

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