25 de fev. de 2017

O Tempo IV


o tempo
guarda a memória
dos tempos

quanto tempo
do tempo
é um contratempo
um destempero
uma vida encerrada
num ciclo de luas

quando a morte
vem de mansinho
fora de seu tempo
nem dá tempo para despedidas

não há tempo
para um adeus
um beijo, um choro
o tempo do fim
anuncia o início
de um outro tempo

a morte do amor
foi a solução
do tempo
em que não havia tempo
para amar

Atit Ordep
25/03/2008

O Tempo III


foi quando
meus dedos
afloraram
a pele sedosa
dos seus seios

então senti
a brevidade
de um momento infinito

toda a minha vida
existe no genoma
desse momento breve

tudo o resto
é pó de estrelas

Atit Ordep
19/03/2008

O Tempo II


um espaço
perdido
dentro de si próprio

um choro
imenso
que faz transbordar os rios

um olhar
pelo horizonte
e mais além

Atit Ordep
19/03/2008

O Tempo I


o tempo existe
dentro de uma ampulheta
com grãozinhos de vidas
que gira infinitamente
até os grãozinhos
ficarem tontos

Atit Ordep
19/03/2008

21 de mar. de 2015

COPO DE VENENO




Preciso tomar 
esquecer que perdi o jogo
que nossas conversas acabaram
e as flores desabrocharam,
vívidas, coloridas e jovens
para ressecar e sumir de nossas mãos

Quando eu acabar
todo o meu copo de veneno
sumirá também as estrelas que contamos
que brilharam por tanto e quanto
durou o turbulento amor, jovem, insano
transformado agora em dois estranhos

Lá se foi a última gota
limpando as dores da tola esperança
caindo dentro de um corpo cristalino e vazio,
de um templo abandonado a um paraíso
sinto que posso respirar, como aquele que já fui, 
- sem existir mais - para ti.

9 de fev. de 2014

Memória de elefante

acordei no meio da noite
num fogo fortuito de cigarras e corujas
com o corpo gemendo de calor
no escuro céu invertido

vi os teus olhos brilhando
lá longe na memória dos elefantes
que buscam água  nas lembranças
e as tuas mãos acenavam
como folhas secas levadas pelas brisas

escondi-me na noite esquecida
procurando a água fresca
que refresca a lembrança da primavera

deixei o dia renascer
manso e tépido
guardei as escrituras ocultas
na inocência das crianças
para que um dia
o sol brilhe completo
nos desenhos coloridos das calçadas

Atit Ordep

16 de dez. de 2013

Espera um pouco

espera um pouco
esqueci de um tempo que foi importante para mim
aguarda mais um pouco
as memórias retornam limpas e transparentes
apenas queria que soubesses
que existiu um tempo
em que o tempo tinha valor
diria mais
um tempo em que o tempo existiu
um tempo em que a vida foi criada
foi no início o paraíso
e depois o pecado
mas nesse tempo o tempo contava
esperei muito tempo
diria mesmo
um tempo sem fim
para valorizar o tempo que existiu
um dia partiste
e levaste contigo as emoções
que enchiam os dias com coisas de valor
o tempo deixou de contar
o relógio parou
os dias agora estão numa película
e projectados num velho cinema
onde os amantes recordam os beijos apaixonados
que um dia preencheram as suas vidas
espera um pouco
quero ver o ultimo beijo
antes de este cinema fechar
para dar lugar a um centro comercial


Atit Ordep

15 de dez. de 2013

Uma coisa simples

algumas vezes as palavras são desnecessárias
não existem
nem precisam ser inventadas

nada preciso falar
quando nos teus olhos
vejo o reflexo da minha alma
na tua mão sinto palpitar o meu coração
nos teus beijos
mato minha sede

o silêncio
fala do nosso amor
da harmonia dos corpos

inútil falar ou escrever
sobre uma coisa tão simples
como o amor que vivemos
eterno e infinito como o universo


Atit Ordep

24 de nov. de 2013

Tempos negros II

estou escrevendo para te contar
que fui presa

sem chao, sem rumo, eu caminhava desolada
pensando nela
quando uma autoridade
dos assuntos negros
me prendeu

levaram-me para a escuridão
nao havia luz em lugar algum
um preto dos seus olhos, um preto sem volta

interrogaram-me por muito tempo
sempre a mesma pergunta idiota
por que eu abracei a Escuridão no dia vinte quatro de novembro?
no início neguei com todas as minhas forças
mas haviam fotos guardadas, no preto, no preto do meu olho

entao confessei o abraço
e me largaram numa alvorada
mas antes um dos agentes murmurou
melhor assim, melhor assim
ai de mim se não confessasse

continuaria lá
nos braços dela, da Escuridão do dia vinte e quatro.


23 de nov. de 2013

Tempos negros

estou escrevendo para te contar
que fui preso

ia caminhado tranquilo na rua
pensando em ti
quando uma autoridade
dos assuntos sentimentais
me prendeu

levaram-me para uma sala escura
com um luz apontada na minha cara
e não me deixavam dormir

perguntavam-me se eu te amava
no início neguei com todas as minhas forças
mas no fim as forças me faltaram
e tive de confessar que te amava

então depois de uma longa noite
me largaram numa rua deserta
e um dos agentes me falou
que sentia pena de mim

veja lá você
só porque eu confessei que a amava


Atit Ordep

Andando por aí…

Andando por aí…

andei por ai
um longo tempo sem ti
andei procurando
um círculo perfeito
que ao ser percorrido
me fizesse voltar aos teus braços

andei por ai
perdido nos caminhos
andei azarado e mal humorado
distante e aborrecido
procurando por ti
muitas vezes te procurei no fundo de um copo vazio
outras no fundo de uns olhos azuis
que me pareciam ser o mar

andei por ai
procurando por ti
sem saber
se existes de verdade
sem saber
se a terra circunvala a lua
andei por ai
apenas por andar

e andando por ai
assim feito um tolo
parece que não te esqueci
mas também não era tarefa fácil
um eclipse do coração
ocorre raramente

e assim vou andando por ai
divagando e esperando
um dia de cada vez
esperando por eclipse lunar
que apague a luz e me deixe dormir para sempre


Atit Ordep

30 de set. de 2013

HOJE UM VERSO SOLTO



Parece um poeta calado
Parado no verso
O fim do homem sombrio
Imagino que finalmente
Depois da morte
Ele está sonhando
Tornou-se o céu
O vento ou chuva
Doce e fininha
Ele está serenando
Nos cabelos e ombros
de quem ouve falar
"Quem era mesmo?"
"Que pena, tão novo"
"Tão inteligente"
Era um homem
Homem sem rosto
Ontem, notícia curta
Hoje, um verso solto
Na chuva fininha
Tornou-se menos sombrio
Depois de deixar o corpo
Junto ao rosto
Nas Nuvens

Ferina * Karolina B

31 de ago. de 2013

FALANDO COM O PAPEL

Estou aqui de novo,
sofrida, calada, abandonada,
sofrimento imposto por convicções,
calada por não ter mais com quem falar,
abandonada por não ter amigos reais
Mas sei como sofre um poeta,
quanto cessam as emoções
nenhuma palavra mais consegue
escrever, nada mais tem rima,
coerência, importância
Mas tudo passa neste mundo de doido
e aos poucos estou retornando,
feliz por de novo escrever para
as feras feridas, assim como eu.
Cá estou eu de volta no mundo
das palavras, voltei a falar
com o papel.
Ferina Izil

31 de jul. de 2013

O MUNDO É DO CAÇADOR



depois de ver
um coração
perdido
correr ferido
e o grito
"Mata! Mata!"
ele pulsando
pulsa, pulsa
partido como folha
geme, ais, ais, ais
mas corre
passadas, vem e vem
ferrão e faca
vermelho e verde
escorre na estrada
a natureza morre
Ele devasta
persegue, e pensa
"Mata! Mata!"
o coração ferido
geme, ais, ais, ais
o mundo é do caçador
enquanto as passadas
vem e vem
a natureza morre nele
e o caçador promete
afligir a presa
que mesmo ferida
pulsa, pulsa
vive mais
corre mais
e vai chegar
ainda assim
(e mesmo assim)
ao próximo coração

Ferina * Karolina B

30 de jun. de 2013

SOZINHA


De sonho em sonho
vou compondo
nossa história
de mansinho...
Pondo e compondo
vou sonhando
nossa história
com carinho...
E assim sonhando,
assim compondo,
nossa história
vai ficando
cada vez mais
um sonho
que somente
eu componho...

Suely Ribella ©

31 de mai. de 2013

NÃO É FÁCIL



Não é fácil ter
um sorriso na face,
um brilho no olhar,
se falta você...
Não é fácil viver,
seja como for,
e não há como ser,
longe de você...

Suely Ribella ©

30 de abr. de 2013

SOMENTE FRIA














Estava frio
mas eu queria 
que você soubesse
Não estava frio
simplesmente
porque ventava
Eu não estava fria
porque o inverno
aproximava
Estava frio
porque eu esperava 
você chegar
Continua frio
porque eu não sei
me conformar

E se esse frio
pretende assim
me segurar
O frio sou
agora sou
somente fria.

Ferina * Karolina B

CONJETURANDO

Quem dera,
que a felicidade,
pudéssemos moldá-la
ao nosso gosto...
quem dera,
em nossa vida,
não houvesse 
nenhum desgosto...

Suely Ribella ©

15 de abr. de 2013

Primavera



Primavera

podia um dia
falar no ouvido da primavera
segredar que a amo
porque ela me dá flores
podia dizer obrigado
pelos dias luminosos e joviais
sei que podia falar coisas indecentes
e até polinizar as suas flores
sei que podia jurar amor eterno
até que o verão nos separasse
sim, sei que podia
mas agora o estio chegou
e é tarde para falar
para o ano conversamos…

Atit Ordep